sábado, 17 de maio de 2008

ERA UMA VEZ NO OESTE - História e reverência


Este filme é um clássico e faz parte de uma, das duas trilogias, que transformaram SERGIO LEONE, diretor italiano, em um dos monstros sagrados do cinema. A primeira se iniciou com “POR UM PUNHADO DE DÓLARES” (1964), continuou com “POR UNS DÓLARES A MAIS” (1965) e culminou com o definitivo “TRÊS HOMENS EM CONFLITO” (1966), todos estrelados por CLINT EASTWOOD. A segunda se iniciou com o que retratamos nessa resenha (1968), continuou com “QUANDO EXPLODE A VINGANÇA” (1971) e culminou com o espetacular “ERA UMA VEZ NA AMÉRICA” (1984). LEONE é um cineasta de primeira linha. Consegue fazer cinema explorando ao máximo cada cena, sorvendo-a como se estivesse provando um bom vinho, sempre bem devagar, porém, sem deixar escapar por um milímetro sequer, o norte da história que se propôs contar, neste caso, história mesmo, a do avanço do progresso rumo ao oeste americano. História contada sob sua ótica e plástica, com realidade e crueza. E, aí está a diferença: O glamour passa longe. Basta prestar atenção na seqüência inicial (na estação) de “ERA UMA VEZ NO OESTE”. São doze minutos de pura aula. Dos closes nos personagens, aos sons captados de forma exagerada, diferente, original. Ele também não se preocupa em esconder de ninguém sua paixões e predileções, ao contrário, as escancara, como fez nestas duas trilogias, onde não faltam reverências ao mestre JOHN FORD, outro gigante do cinema. Não é a toa que alguns dos diretores da atual safra, como QUENTIN TARANTINO e ROBERT RODRIGUES, reconhecidos pela crítica e pelo público, bebem desse mesmo vinho.
O filme é um épico por excelência. Conta a história do desbravamento do oeste americano. A partir de 1840, NAPOLEÃO BONAPARTE já tinha perdido a guerra e a europa vivia em relativa paz. Os americanos resolveram se voltar para sí mesmos e iniciaram a aventura rumo ao oeste, pois entendiam que estariam conquistando também, o seu próprio progresso. Essa conquista veio, a custa de muito sangue, de branco e de índio, e de uma revolução, a GUERRA DE SECESSÃO, travada entre o NORTE, semiindustrial e progressista, e o SUL, ruralista e escravagista. Naqueles idos existia gente de todo tipo. Do visionário e empreendedor, aqui representado pelo dono da ferrovia (GABRIELLE FERZETTI), que queria fazer avançar sua obra a todo custo, quando não conseguia comprar as terras a preço bom, mandava matar seus donos. Da bela prostituta (CLAUDIA CARDINALLI), herdeira das terras do marido de ocasião. Do inescrupuloso que vivia a perpetrar o mal (HENRY FONDA), atuando como o braço à margem da lei do magnata da estrada de ferro. Do aproveitador bonachão (JASON ROBARDS – ótimo no papel de CHEYENNE), assassino do coração mole que se apaixonou pela bela dona. E também, do justiceiro vingador (CHARLES BRONSON – o de sempre, impassível feito BRUCE LEE), que não descansa enquanto não vinga a morte do pai, retratada na impagável cena final do duelo, entre ele e HENRY, enxertada com um retorno ao passado, com a morte do pai. LEONE consegue contar essa grande história com habilidade de poucos. Fornece-nos, com clareza, a visão universal do fato histórico em si, tão importante que foi para o desenvolvimento da América, mas ao mesmo tempo a fragmenta nas histórias, tão díspares, de cada um dos personagens, que nos custa a acreditar que elas estão entrelaçadas entre si. Tem que saber saborear esse vinho. Algumas curiosidades sobre esta produção. HENRY FONDA não queria participar, já que sabia que o papel havia sido feito para CLINT EASTWOOD. Foi preciso o próprio LEONE ir até LOS ANGELES para convencê-lo. O diretor cogitava juntar CLINT EASTWOOD, LEE VAN CLEEF e ELI WALACH, o trio de “TRÊS HOMENS EM CONFLITO”, para uma participação especial no início do filme (provavelmente para fazer a clássica tomada da estação, mas CLINT não estava disponível). ALL MULLOCK, um dos pistoleiros que fez a seqüência (o que estalava os dedos) suicidou-se no set. Ao ser perguntado sobre o ritmo lento do filme, LEONE teria afirmado que fez de propósito, era a reprodução de uma morte lenta. As cenas externas foram filmadas em MONUMENT VALLEY (EUA) e ALMERIA (ESPANHA) e as internas nos estúdios da CINECITTÁ em ROMA. O filme foi uma imposição da PARAMOUNT, já que ele não queria fazer naquele ano. Acabou sendo um fracasso de bilheteria na época, e só depois se recuperou. A trilha sonora foi assinada por outro gênio, ENNIO MORRICONE, e é um caso a parte. Belíssima.

2 comentários:

CHICAO disse...

parabéns, ráu. formidável seu comentário, tão bom quanto o filme, que parece ser uma unanimidade. agora avassaladora
graças a exceção, a bola fora do
ruy castro.
fosse longe, em... napoleão... puta
merda!
sim, parece que dei outra voada ontem, no final, na cena duelo e o
flash-back, eu disse: "é, zé olhe aí como foi, o irmão dele, do bronson, não aguentou o peso do pai". era ele, o próprio, o gaita,
né isso?
porque voces não riram, não zombaram? notaram não.
chico.

Ráu disse...

Confesso que não prestei atenção, CHICÃO. Era o GAITA mesmo. Tudo começou ali. A história americana é muito bonita. LEONE se situou bem quanto ao espaço, mas não quanto ao tempo, portanto, não podemos imaginar mais coisas. Os fatos se passaram antes da guerra civil, antes do governo de LINCOLN, que costurou a reunificação, com tratados, dinheiro (pouco) e na bala (comprou o TEXAS, a partir da tomada de MONTERREY). Se NAPOLEÃO tivesse invadido a INGLATERRA alguns anos antes, a história teria sido outra.