não vi nada hoje, a programação tá uma desgraça, então - com base na prévia do
oscar feita pelo ráu - fui catar, achei esta e gostei do gallego de novo. ela já
estraçalhara no "garotas ... num sei o que". sua beleza não atrapalha seu talento.
chico.
Promoção TUDO SOBRE O OSCAR
AME-A (ANNE HATHAWAY) E DEIXE-A (KYM)
Por LUIZ FERNANDO GALLEGO
13/2/2009
O entusiasmo do diretor Jonathan Demme por música pode atrapalhar um pouco seu mais recente filme de ficção: há algumas digressões excessivas (e não apenas musicais), mas nada enfraquece o que O Casamento de Rachel tem de melhor: a construção de personagens bem verossímeis e interpretados como gente de carne-e-osso por um elenco admirável na entrega afetiva aos tipos e situações do roteiro, o primeiro escrito por Jenny Lumet (filha do diretor Sidney Lumet) que chega às telas.
Como cerimônia de casamento, talvez fosse divertido estar na festa de Rachel, com direito a (perdão pelo lamentável termo ianque-solipsista e – este sim - politicamente incorreto) “world music” interessante; incluindo, sem ter nada a ver com nada, um grupo de samba e algumas passistas cheias de plumas e roupa quase nenhuma. Esqueçam. Ou curtam. Não é o que importa - como nunca fez muito sentido o hábito do diretor colocar no final dos créditos de seus filmes uma frase em português (“A luta continua” – ou algo assim).
O cerne do que se vê são as já enxovalhadas (em vários sentidos) relações familiares, tema de obras as mais variadas: de dramas com pretensão de “cinema sério” até comédias românticas mais ou menos bobas. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, O Casamento de Rachel transita em diferentes tonalidades de situações, “leves” e “pesadas”, com grau de acertos e equívocos bem variado. Mas obtém uma “costura” eficiente com boa ajuda dos desempenhos.
Não se pode dizer que Anne Hathaway esteja menos do que perfeita ao encarnar ‘Kym’, a irmã da noiva: ela faz uma dependente química em fase de tentativa de recuperação da dependência de drogas, mas não necessariamente recuperável no que diz respeito a seu temperamento auto-(e hetero) destrutivo. Ela é excessivamente autocentrada e, na maior parte do tempo insuportável na falta quase absoluta de empatia pelo dia de festa de sua irmã (muito bem defendida por Rosemarie De Witt). É um gol de placa da atriz conquistar a platéia em uma personagem da qual desejaríamos distância na vida real.
Os muitos convidados do casamento ganharam caracterizações adequadas do vasto cast para personagens periféricos ou episódicos; e os pais (separados) de Kym e Rachel, interpretações excelentes: tanto de Bill Irwin (simpaticamente constrangido ao tentar atenuar os conflitos e ressentimentos entre as filhas) como de Debra Winger. Esta, mesmo em um papel menor, devolve ao convívio do espectador um pouco de sua forte presença cênica, rarefeita por uma carreira bem truncada nos últimos mais de dez anos.
Os lances de roteiro tentam reproduzir a “descostura” da vida real em um encontro familiar carregado de amplo contencioso de mágoas, mas por mais que se chegue a temer, não são repetidos lances exacerbados, por exemplo, do dinamarquês Festa de Família. Por outro lado, também não se encontra a maestria de Robert Altman em Cerimônia de Casamento. Afinal, é um filme de Jonathan Demme, com antecedentes de carreira bem irregular, seja do ponto de vista puramente cinematográfico, seja do ponto de vista “comercial”.
Depois de alguns insucessos na ficção e de documentários pouco accessíveis em matéria de visibilidade (pela distribuição restrita), ele flerta, sem dúvida, com o clichê de filmes que se passam em torno de reuniões de família - e que costumam render boa grana. Ele tenta dar um toque diferente (?) do padrão hollywoodiano usando “câmera na mão” e (algumas vezes) fotografia granulada - como se estivéssemos assistindo à filmagem caseira amadorística de um parente do noivo - que não deixaria de lado as contribuições musicais dos convidados ou intermináveis brindes, nem sempre interessantes e tão divertidos
Se nem tudo é satisfatório, o todo pode ser apreciado no que, em resumo, é mais um “filme de atores” - dentre tantos outros recentes que estão nesta temporada de indicações a prêmios anglo-americanos. Tão (apenas aparentemente) diverso de uma produção solene e “clean” como Dúvida, este Casamento de Rachel não se realiza plenamente dentro da (também aparente) informalidade que parece pretender, mas pode gratificar o público pelo binômio personagens-intepretações.
Ainda que no geral, todos estejam, no mínimo, ótimos, é praticamente impossível não se render ao acerto de Anne Hathaway na composição e desenvolvimento de sua ´Kym´. Raramente o cinema de ficção consegue construir um tipo de dependente química com personalidade básica narcisista, frustrada - e de certa maneira, invejosa – de modo tão verossímil. Ponto para a roteirista e para a atriz, embora lembrando que Demme já dirigiu 4 atores premiados pela Academia, além de mais outros tantos desempenhos indicados como este. Ela merece. Se vai levar ou não, é outra história...
# O CASAMENTO DE RACHEL (RACHEL GETTING MARRIED)
EUA, 2008
Direção: JONATHAN DEMME
Roteiro: JENNY LUMET
Fotografia: DECLAN QUINN
Edição: TIM SQUYRES
Direção de Arte: KIM JENNINGS
Música: DONALD HARRISON JR. e ZEFER TAWIL
Elenco: ANNE HATHAWAY, ROSEMARIE DeWITT, MATHER ZICKEL, BILL IRWIN, DEBRA WINGER.
Duração: 114 minutos
Site oficial: www.sonyclassics.com/rachelgettingmarried
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