eu tava atrás do marcelo janot no críticos de cinema.com. mas só tem esta crítica do
gallego. aí tá certo, viu diferente de mim, mas escreveu muito bem.
os tres primeiros parágrafos, dissertando sobre o gênero, estão perfeitos.
quem já viu, fora o zé?
chico.
PURO PRAZER DE ACOMPANHAR UM "FILME DE BANG-BANG"
Por LUIZ FERNANDO GALLEGO
15/1/2009
Alguns estudiosos dos westerns no cinema surpreendem os fãs quando dizem que algum esgotamento do gênero já existia no início dos anos 1950, década em que surgiram (para lembrar apenas alguns títulos clássicos) Matar ou Morrer de Fred Zinnemann (High Noon, ’52), Os Brutos também amam de George Stevens (Shane, ’53), além de um dos grandes filmes de todos os tempos em qualquer gênero, Rastros de Ódio, do – ainda e sempre - maior de todos os cineastas que se dedicaram ao formato, John Ford (The Searchers, ’56).
Para aqueles puristas, independentemente de suas qualidades, os dois primeiros filmes citados já seriam obras que modificavam o western “puro” (quem define o que seria exatamente isto?) trazendo a pretensão de usar o modelo com novos significados (a questão política do McCarthysmo em Matar ou Morrer) ou mesmo estabelecer uma reflexão arquetípica e elegíaca (no caso de Shane, que seria então uma espécie de “pré-pós-moderno” referencial). O caso de Rastros de Ódio, entretanto, apontava para uma possibilidade de renovação dos clichês do feitio, abrindo espaço para revisão de mitos maniqueístas que filmes-tipo mais antigos do próprio John Ford ajudaram a cristalizar. Na década seguinte, o velho diretor tido como bem reacionário trocaria definitivamente o papel de vilões, antes atribuído aos indígenas, agora vistos como vítimas (Cheyenne Atumn ou Crepúsculo de uma Raça, ’64) realizado após a denúncia de mitologização pelo western, revisto como um formato muito distante das verdades históricas da conquista do oeste (O Homem que matou o Facínora, ’62).
Tentativas de atualização na década de 1960 passaram pela exacerbação da violência (o “western-spaghetti” de Sergio Leone e Meu Ódio será tua Herança, de Sam Peckinpah), do humor (Butch Cassidy) e do revisionismo mais amplo que trocava definitivamente a mitologia antiquada por propostas de aparência menos fantasiosa (Pequeno Grande Homem de Arthur Penn e McCabe e Mrs. Miller de Robert Altman). Mas só vinte anos depois, através de Dança com Lobos de Kevin Costner e de Os Imperdoáveis de Clint Eastwood, foi que o cenário do Oeste americano voltou a merecer nova atenção entusiasmada do público e em premiações. Desde então, esforços isolados tentam revitalizar o gênero, incorrendo em resultados que podem ser interessantes, ainda que com narrativa distante dos mais diversos padrões de western (O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford), refilmagens menos atraentes (como a do cinqüentão 3:10 to Yuma aqui intitulado Os indomáveis, com Russel Crowe e Christian Bale) ou esforços de atualização frustrados (À procura da vingança - Seraphim Falls - com Liam Neeson e Pierce Brosnam).
É neste panorama incerto que o segundo filme dirigido pelo excelente ator que é Ed Harris bate nas telas como uma agradável surpresa. Primeiramente porque, exceto pela qualidade da realização, em nada lembra o filme anterior de Harris feito há 8 ou 9 anos, Pollock; além disso, o roteiro, do qual o diretor participa como co-autor, consegue reviver muito do clima tradicional do gênero e, tal como a linguagem fílmica adotada, vai fluindo muito bem, sem invencionices de reformular nada nem reinventar a roda, o que devolve a antigos espectadores o puro prazer de acompanhar um “filme de bang-bang” com uma história que se desenvolve em reviravoltas algo inesperadas.
Visualmente encontramos bons e bonitos enquadramentos funcionais em espaços abertos; e diálogos corretos em cenas de interiores. Podem-se questionar alguns pontos menos satisfatórios na caracterização do personagem central vivido por Harris, mas o ator, raramente lembrado em premiações, ajuda a suplantar algumas passagens com as dispensáveis dificuldades verbais do xerife que interpreta. O co-astro Viggo Mortensen como seu colega e amigo foi mais bem aquinhoado com um tipo caladão que é ao mesmo tempo um narrador não interferente demais, testemunha e co-protagonista.
De quebra, Jeremy Irons brilha como um vilão sem caricatura e Renée Zellweger surge menos chatinha do que de hábito, e consegue levar adiante algumas características um pouco menos convincentes da personagem. Mas o filme não quer mesmo “psicologizar” nem “explicar” tais possíveis personalidades no velho oeste. No máximo, importa o pano de fundo dos episódios que recorre a um cenário onde a Lei ainda é frágil, desrespeitada ou – pior ainda –muda ao sabor de interesses, sofrendo apropriação pelo poder que se deixa corromper ou cooptar por “resultados” antes de respeitar princípios. Mas isso de “princípios” não é tão enfatizado como qualidade daqueles tempos e nem se transforma em discurso moralista no filme: a rigor nenhum personagem é modelar.
Ainda vale a pena prestar atenção na prostituta que pouco aparece mas é bem defendida por Ariadna Gil, assim como em aspectos da música incidental de Jeff Beal: o tema de chegada da personagem de Renée Zellweger é criativo e pouco habitual no gênero (um conjunto de cordas); embora em outros momentos Harris pudesse dispensar trechos musicais “climáticos”. O ator-diretor recorreu ao mesmo compositor de seu Pollock, mas espertamente recorreu ao fotógrafo de Dança com Lobos, o premiado Dean Semler. Edição com bom ritmo permite que o filme possa agradar mesmo aos que não se entusiasmam com o gênero e/ou ficaram insatisfeitos com outros exemplares recentes.
# APPALOOSA - UMA CIDADE SEM LEI (APPALOOSA)
EUA, 2008
Direção: ED HARRIS
Roteiro: ED HARRIS e ROBERT KNOTT
Fotografia: DEAN SEMLER
Edição: KATHRYN HIMOFF
Direção de Arte: STEVE ARNOLD
Figurino: DAVID C. ROBINSON
Música: JEFF BEAL
Elenco: ED HARRIS, VIGGO MORTENSEN, JEREMY IRONS, RENÉE ZELLWEGER, TIMOTHY SPALL, ARIADNA GIL.
Duração: 114 minutos
Site oficial: http://welcometoappaloosa.warnerbros.com
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