domingo, 11 de outubro de 2009

"sobre pelé"

entrei atrás de "chinatown", que acabei de ver agora de 4 às 6, mas como fazia muito tempo da primeira vez, estava na dúvida se era de huston ou polanski, imagine!?
vi várias fichas, sinopses e resenhas. gostei muito dessa daí, sobre a importancia de
separarmos o homem do personagem, do mito. mas a "patrulha" é fogo: sempre alerta e
pronta a fazer merda.
chico.





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RODRIGO FERNANDES e o seu olhar sobre o mundo do cinema
14:0924/09/2009 0
Papo Sério

Há algumas semanas lamentei aqui a morte de Charlton Heston, mítico astro da fase "épica" de Hollywood. Elogiei o ator, e sua carreira pontuada por clássicos como Os Dez Mandamentos, Ben-Hur, O Planeta dos Macacos e El Cid. Muita gente não gostou. Me perguntaram como eu poderia falar bem de alguém que um dia foi presidente da National Rifle Association, uma organização a favor das armas de fogo. Como eu podia elogiar um cara que (sic.) "...foi espinafrado pelo diretor Michael Moore em Tiros em Columbine...". Leio estes e-mails, uns mais nervosos, outros menos, e me pergunto: será que é possível separar o profissional do homem, o artista, artífice, do cidadão? O gênio do canalha?
A maioria dos historiadores da sétima arte concordam que, se por trás das câmeras Charlie Chaplin era um gênio, na vida pessoal o homem era desprezível. Manteve a mãe por anos em um asilo miserável, traía sua mulheres como quem bebe um copo d’água e era um autêntico ditador com os atores que dirigia. Marlon Brando o viu tantas vezes destratar o próprio filho que anos mais tarde diria "Foi o homem mais sádico, mais perverso que conheci". Ok, ok, o homem era terrível, um tirano, um torturador, mas o que seria do cinema moderno sem Chaplin e seu imortal Carlitos?

* * *
Stanley Kubrick nunca seria indicado a um prêmio Nobel da paz. O homem era um monstro em todos os sentidos possíveis da palavra. Criou filmes que estão sempre nas listas dos melhores de todos os tempos, mas ao mesmo tempo era um carrasco, marrento, intransigente, cruel. "Não é preciso ser um cara legal para ser talentoso. Stanley Kubrick é um merda talentoso" diria Kirk Douglas a quem Kubrick dirigira em Spartacus. Malcolm McDowell, o astro de Laranja Mecânica, resumiria bem a questão: "Eu o amava, e o odiava também". Será que é preciso ter bom caráter para ser um gênio?
* * *

* O diretor Elia Kazan foi ao mesmo tempo um perseguidor e um perseguido. No começo de carreira dirigiu uma série de filmes-denúncia. Contra as falhas da justiça (O Justiceiro), contra o preconceito (O Que a Carne Herda) e contra o anti-semitismo A Luz é para Todos). Porém, no auge do macarthismo (época em que o governo americano decidiu mandar pro xilindró qualquer simpatizante do comunismo) Kazan entregou o nome de um monte de comunas, entre eles o do amigo Arthur Miller. Sim, Kazan foi um traíra de primeira. Mas foi também o diretor de dois filmaços, dois clássicos que apresentariam ao mundo ninguém menos que Marlon Brando: Uma Rua Chamada Pecado e Sindicato de Ladrões (fantástico). Além de ter sido um dos fundadores do Actor’s Studios. Quem entende um pouquinho de cinema sabe do que estou falando (quem não entende vale uma busca no Google, a história do Actor’s é a própria história da interpretação no cinema). O que ficou realmente? O mau, o péssimo exemplo da vida pessoal ou o legado artístico deixado pelo cineasta? * *

A filmografia de Roman Polanski é inatacável, se liga: Repulsa ao Sexo, A Dança dos Vampiros, O Bebê de Rosemary, Chinatown, Tess, O Pianista... isso pra citar só as produções mais célebres. Um dos grandes diretores da história? Ninguém duvida.
* Porém, em 1978, durante uma festa na mansão do chapa Jack Nicholson, Roman embebedou e depois traçou uma guria de 13 anos. Não é à toa que desde então o cineasta vive exilado na Europa. Se o malandro colocar o dedo mindinho em território americano já era, é cana, cana dura. Mesmo a moça, hoje uma senhora de respeito, o tendo perdoado da burrada. Polanski não pôde sequer ir buscar seu Oscar de melhor diretor por O Pianista. E aí, o que vale mais? A obra ou o homem? * *

* Os (mau) exemplos são infinitos. Nos anos 70 Martin Scorsese só trabalhava movido a quilos de cocaína (fornecida pelo próprio estúdio, aliás), Francis Ford Coppola, auto-definido como o "novo Michelangelo", nos sets de Apocalipse Now demitia membros da equipe só por não gostar da cara do sujeito, fumava tanta maconha que a United Artists, produtora do filme, fez um seguro de vida pro diretor, assim caso ele batesse as botas o prejuízo não seria assim tão grande. E olha que só citei os diretores, quando se trata dos atores a coisa piora consideravelmente. É só pegar as revistas de fofoca da sua irmã mais nova e dar uma olhada. Todo mundo pisa na bola toda hora. * *

A dualidade é parte da natureza humana. Inquestionável. John Lennon dizia que todos temos Hitlers e Ghandis dentro de nós. Pode-se condenar o homem? Sim, pode-se, mas quem tem moral para fazer julgamentos morais? Eu, Você, Nós? Acho que ninguém. Condenar a obra… ok… direito válido, o artista sobe no palco preparado para aplausos ou vaias. Agora, condenações éticas ou morais são outro papo. Papo muito sério.
* Renato Russo escrevia canções de amor, tristes e belas, belíssimas. Assumida sua homossexualidade ficou-se sabendo que tais canções não eram escritas para namoradinhas meigas e delicadas como todo mundo imaginava e sim para marmanjos barbudos e marombados. Bem, ninguém deixou de ouvir a Legião Urbana por causa disso. As canções continuam belas. É coisa pra se pensar. A vida particular do artista interfere na obra? O que ele faz longe dos holofotes é problema nosso? * *

* Lá em cima da coluna falei sobre Charlton Heston. O ator que segundo a visão de Michael Moore (diretor que, aliás, acabou de ser indiciado por apresentar fatos forjados em seu último filme S.O.S. Saúde) era um dos responsáveis pela violência nos EUA, um péssimo exemplo de homem público. Porém Heston foi também um ferrenho defensor da igualdade racial ao lado de ninguém menos que Martin Luther King, presidiu o Sindicatos dos Atores de Hollywood conquistando avanços importantes para os artistas que não eram astros como ele e em 1965 devolveu todo seu salário aos produtores para que o diretor Sam Peckinpah pudesse concluir o filme "Juramento de Vingança", cujo orçamento estourara. Charlton Heston, herói ou vilão? Os dois. Como todos nós. * *

* Concorda? Discorda? É só acessar o link aí embaixo. Ou mandar as balas dum-dum direto pro meu e-mail pessoal: oficinadaspalavras@yahoo.com.br * *

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