Ao assistirmos “Millennium”, percebemos claramente porque o filme levou o Oscar de Melhor Edição (mais do que merecido). Foi a opção que o Diretor David Fincher (“Allien 3” e “Seven”) escolheu, não apenas para tornar compreensível a trama, adaptada do livro de mesmo nome, mas também para dar um toque de ação e suspense a uma história, por si só, monótona e pesada. Ele “dividiu” a história em duas: Uma, focalizando o jornalista investigativo Daniel Craig (o atual 007), e a outra focalizando a hacker Rooney Mara, “fera” em esmiuçar a vida do povo da forma mais heterodoxa possível. Essa menina, aliás, é uma jóia rara, atriz de primeiríssima linha, embora tenha perdido o Oscar para Meryl Streep (o que não é nenhum demérito). Voltando ao filme. Habilmente, Fincher conseguiu conduzir as duas histórias em separado, até que pode juntá-las no decorrer do enredo, exatamente, quando os dois personagens mais precisavam um do outro. O jornalista, encrencado com problemas judiciais (foi processado pelo Primeiro Ministro, por difamação), afastado da revista e da chefe (e amante - Robin Wright) é contratado pelo magnata sueco Christopher Plummer (no papel que lhe rendeu a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante), para descobrir as circunstancias que levaram ao desaparecimento (e possível morte) de sua sobrinha ocorrido há vinte anos. Ao iniciar a investigação ele se embrenha num emaranhado de situações, mas vislumbra uma saída para a novela: o passado nazista de Stellan Skarsgard (ótimo ator sueco), sobrinho do magnata. Mas, e as provas? É aí que entra a hacker “piradinha”, também encrencada na vida pessoal, dependente do estado (ela é considerada incapaz desde os doze anos), meio que sem rumo na vida, que encontrou nesse trabalho, uma razão a mais para viver: a paixão fulminante pelo jornalista. Juntos, eles vivem um tórrido romance (ela é uma loba na cama), mas também conseguem as pistas que esclarecem o desaparecimento da sobrinha e desmascaram a situação até então vigente. O filme enfoca, de forma realista (propositadamente realçada pelo diretor), a fuga a que se prestaram as duas personagens femininas, a de Mara e da sobrinha, já que ambas foram vítimas do mesmo tipo de violência e incompreensão: maltratadas e violentadas pelos pais, submissas de uma realidade tão dura e chocante, que se tornou impossível suportá-la. Por temperamento, elas reagiram diferentemente à comoção por que passaram. Enquanto a sobrinha do magnata preferiu se fazer passar pela irmã, vivendo cômoda e tranquilamente como burocrata de uma instituição financeira em Londres, a outra optou por quebrar as regras do jogo e enfrentar o estabilishment, feito um pirata contemporâneo. Ao corromper o agente público (seu tutor) e descontar nele parte das perversidades a que tinha se submetido, ela demonstrou claramente que não tinha muito o que perder. No final, como provação, as duas mantiveram a ambigüidade como linha demarcatória de suas trajetórias: Enquanto uma retornou, tranqüila e friamente, para os braços da família da qual se desprendera, a outra, quando não teve correspondido o amor a que se dispôs encarar, preferiu manter sua sina de heroína sem rumo, imprevisível e fugaz. Trata-se de um baita filme. Direção segura, fotografia impecável e ótima adaptação de roteiro.
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Um comentário:
Belo comentário, mister Ráu, retrata com clareza a grande obra que é esse filme. Um dos melhores filmes a que assisti nos últimos anos. O 007 tá muito bom também, mas a menina mata a pau.
Zé
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